Estava um dia de sol de inverno. O chão, ainda húmido da geada da noite, teimava em não secar apesar de receber o calor dos raios solares de janeiro. No recreio da escola, não se via vivalma, havia silêncio total.
A campainha tocou e instalou-se a algazarra. Risos, gritos, conversas dos alunos que se amontoavam às saídas das salas ecoaram enchendo o espaço de um misto de alegria e barulho ensurdecedor.
O Joãozinho, um aluno do 1º ano, cabisbaixo e muito triste dirigiu-se para o muro que atravessava uma parte do recreio e aí se sentou. Parecia alheado. Nada lhe interessava, nem as brincadeiras dos colegas que saltavam como coelhos, nem o lanche que mantinha intacto na sua saca.
A Joana, também uma menina do 1º ano, aproximou-se e perguntou:
– O que te aconteceu? Não comes? Não queres brincar?
O Joãozinho ergueu os olhos e fitando a menina disse:
– Estou preocupado e por isso não tenho fome.
– Preocupado com quê?
– O Bobby, o meu cão, desapareceu. Não sei dele desde ontem à noite. – respondeu o rapazinho, enquanto uma lágrima muito atrevida começou a deslizar pela face, agora vermelha por causa do calorzinho daquele sol morno.
– Não chores, não chores! Vais conseguir encontrar o teu Bobby!
A Tânia, uma menina do 2º ano que ia a passar por ali, ouviu tudo e curiosa, aproximou-se, perguntando:
– O teu cão desapareceu? Estás a falar a sério? Temos que fazer alguma coisa!
– Tens razão! – exclamou a Joana cheia de esperança – Mas o quê?!
– Deixa-me pensar! – disse a Tânia, coçando a cabeça, a meditar numa solução para o desaparecimento do Bobby.
Os três meninos ficaram em silêncio, até que a Tânia, excitada, deu um pulo e gritou muito alto:
– Tive uma ideia!!! Vamos fazer um anúncio!
– Um anúncio?! E como se faz um anúncio? – perguntou a Joana.
– Ai, eu cá não sei! – disse o Joãozinho, fungando e assoando o nariz.
– Não há problema nenhum! A minha professora é especialista a fazer anúncios.
Nesse mesmo instante passou o Eduardo do 3º ano que ao ver o Joãozinho tão triste, perguntou:
– O que aconteceu?
– Foi o cão do Joãozinho que desapareceu… – respondeu tristemente a Tânia.
– Oh!… E o que vão fazer? – perguntou preocupado o Eduardo.
– Estávamos a pensar fazer um anúncio. – explicou a Tânia.
– Boa!!! Eu sei fazer…- respondeu entusiasmado o Eduardo.
– Sabes? Que bom! Então ajuda-nos!!! – suplicou o Joãzinho.
– Está bem, vou ajudar-vos! Primeiro têm de arranjar uma boa fotografia do cão. Como é que ele se chama? – perguntou o Eduardo.
– Chama-se Bobby! – choramingou o Joãozinho.
– Não chores! Nós vamos encontrá-lo! Depois temos de fazer um pequeno texto onde descrevemos o Bobby com todo o pormenor.
– E de seguida o que fazemos? – perguntou muito interessada a Tânia.
– Espera! Ainda não acabei de explicar… No texto do anúncio temos também de colocar quem procura o cão e um contacto telefónico…
– Pode ser o nome da minha mãe e o telemóvel? – perguntou o Joãzinho.
– Sim, e o da escola também! – respondeu o Eduardo.
– Tenho aqui uma fotografia do Bobby. Vamos então começar a escrever o anúncio? – questionou ansioso o Joãozinho.
– Vamos! – responderam entusiasmados a Tânia e o Eduardo.
A Tânia, sem hesitar, correu à sala de aula e regressou logo de seguida com uma folha de papel, cola e uma caneta.
Sentaram-se todos no muro e o Eduardo pegou na fotografia do Bobby e colou-a no cimo da folha, puxou da caneta e começou a escrever:
“Procura-se:
Cão chamado Bobby, pelo curto de cor castanho claro com uma mancha branca na orelha direita. Usa coleira vermelha. É meigo e brincalhão.
Se o encontrar, ajude-o a voltar para casa.
Contacte: 915 086 213 ou Escola de Refojos”.
– O que acham? Ficou bem?- perguntou o Eduardo aos colegas.
-Sim, parece-me perfeito! – afirmou a Joana.
– Irá resultar?- questionou o Joãozinho.
– Claro que sim, Joãozinho, vais ver que logo, logo o Bobby vai aparecer. -respondeu o Eduardo.
Após o toque da campainha, o Joãozinho dirigiu-se à professora e pediu-lhe para imprimir o anúncio e contou-lhe o sucedido.
A professora concordou em fazer várias fotocópias do anúncio e oferece-se mesmo para ajudar. No final das aulas, o grupo de amigos reuniu-se e divulgou pelas várias turmas o sucedido com o Bobby. Todos se mostraram disponíveis para ajudar na busca do cão do Joãozinho.
No caminho de casa os alunos distribuíram as dezenas de anúncios sobre o Bobby pela freguesia.
Naquele dia todos sentiram que tinham feito uma boa ação e estavam contentes por terem colaborado.
Tinham percorrido a vila toda a colocar os anúncios em vários locais.
A noite caiu, Joãozinho em casa pensa no seu amigo desaparecido. Embora muito preocupado, adormeceu na esperança de ter notícias do Bobby no dia seguinte.
O dia amanheceu, o sol já brilha e o céu está muito azul apesar da neblina que cobre as plantas, lá fora. Joãozinho acordou muito cedo, ansioso por voltar à escola e esperançado que o plano dos amigos para encontrar o Bobby resulte.
Já está pronto, de mochila às costas e de pequeno-almoço tomado, quando o telemóvel da mãe toca.
O seu coração bate acelerado, parece que vai sair do peito, será alguém a dizer que encontrou o Bobby?
A mãe atende, e do outro lado ouve-se uma voz forte.
– Está, quem fala? – perguntou a mãe.
– Mãe quem é ? Quem é ? Encontraram o Bobby? – interrompe o João.
– Calma filho, estou a ouvir mal, não percebo o que senhor está a dizer. Está-me a ouvir, o senhor é quem? Encontrou o meu Bobby?
– Minha senhora daqui fala do gás, o Bobby não encontrei, o que encontrei, foi a sua fatura que ainda não pagou, se não vier liquidá-la ainda hoje, teremos de lhe cortar o gás. – respondeu o senhor exaltado.
– Ah! Sim, sim, hoje mesmo tratarei disso. – respondeu a mãe com uma voz trémula.
A mãe desligou o telefone, o João entristecido abraçou-se à mãe.
– Mãe, promete-me que vamos encontrar o Bobby, promete por favor.- pediu o João.
– Prometo meu filho, não fiques assim, haveremos de o encontrar. Agora despacha-te para eu te levar à escola, que ainda tenho que passar na loja para pagar o gás. Com esta agitação toda, deixei passar o prazo. Vamos, vamos! – exclamou a mãe.
A mãe do João, não queria que o filho se apercebesse, que ela estava tão nervosa e ansiosa quanto ele. A caminho da loja, as lágrimas escorriam-lhe pela face, a palidez do seu rosto, transparecia o cansaço da impotência que transportava, como iria ela cumprir a promessa que fez ao filho, pensava ela.
Ao chegar à loja, por entre uns arbustos, pareceu-lhe ouvir um latir familiar, afastou a ramagem e lá estava o Bobby a brincar com uma linda cadela.
– Bobby, bobby! – gritou ela felicíssima de o ter encontrado.
O cão correu na sua direção, lambujando-a toda de tanta alegria. Reconheceu logo a sua dona.
– Oh Bobby, que susto que nos pregaste, com que então, andavas a namorar? Vais comigo pagar o gás, ali à loja, e vamos já para casa tomar uma banhoca, para receberes o teu amigo João, que está muito triste desde que desapareceste, seu malandro. – disse a mãe do João.
Quando o João chegou da escola, muito estranho e desconfiado, a mãe disse para ele ir até ao jardim.
A meio do caminho, surgiu logo o Bobby, todo atabalhoado. Saltou para o colo do João lambendo-lhe a cara, o cabelo e tudo que encontrava.
Tamanha era a cumplicidade e felicidade entre ambos!
O que a mãe não sabia, porque o João ainda não tinha contado, era que, graças aos anúncios que os alunos distribuíram para encontrar o Bobby, choveram dezenas de telefonemas para a escola a alertar para um cãozinho de pelo curto e castanho claro, com uma mancha branca na orelha, que se encontrava junto à loja do gás, entre os arbustos, na companhia de uma cadelinha. Além disso, perante a insistência dos alunos da escola, a funcionária tinha lá ido verificar, e tinha sabido que uma senhora já havia levado o cão consigo. E pela descrição, só podia ser a mãe do Joãozinho!
Published: Mar 2, 2016
Latest Revision: Mar 2, 2016
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